Homenagem ao Mestre
  Para  nossa homenagem ao mestre, escolhemos a Profª Sheila Briano de Oliveira  pela admiração ao trabalho dela com as crianças especiais e pela sua  imensa dedicação a sua profissão. Pós graduada em neuropsicologia  educacional pela ISAL - Instituto Superior de Educação da América  Latina. Possui especialização em educação especial na perspectiva  inclusiva, pela UNEB. Graduação em pedagogia pela UNEB. Em 2008 foi  aluna especial do mestrado da FACED/UFBA na disciplina- Deficiência,  Educação e sociedade. Tem experiência na área de educação, atuando  principalmente com os seguintes temas: Educação especial, educação  inclusiva, prática pedagógica e AEE- atendimento educacional  especializado.
Atuação Profissional:
 *Em  2003 trabalhou na escola municipal Odete Nunes Dourado como professora,  e também estagiou na escola cooperativista de Irecê como assistente de  sala de aula.
 *Em  2004 trabalhou na fundação Bradesco como profª substituta. de 2005 a  2008 foi orientadora educacional voluntária na Associação de pais e  amigos dos excepcionais - APAE, assumiu as seguintes funçoes na  instituição; Assistente voluntária da sala de Estimulação precoce(  educação infantil) de 2006 a 2007 foi diretora escolar e de 2007 a 2008  foi orientadora educacional.
  *De 2007 a 2009 trabalhou na Direc na coordenação de educação
 *Em  2009 foi profª da EJA( educação para jovens e adultos) nas disciplinas  de português e matemática na Escola Municipal Zenália Dourado Lopes
 *Em 2009 passou a trabalhar na Secretaria de educação do município de Irecê, como coordenadora de orientação especial.
 *Também é profª na UNEB, no curso de Pedagogia.
MEMORIAL EDUCATIVO DE SHEILA BRIANO
1.Me conhecendo...
A  primeira de uma nova geração.Do lado materno a primogênita a ser  apresentada a família Briano, de origem italiana , onde as mulheres  costumavam casar cedo. Surgi de uma união de dois jovens que pretendiam  sair da zona rural - do sítio, como se fala  na língua regionalista da  cidade pernambucana: Arcoverde. A mesma que meus pais se conheceram e  findaram raízes, a procura de educação escolar(a que se refere a  instituição), trabalho e como eles mesmo dizem: “um rumo na vida.”
A  educação de minha mãe, a senhora Maria Eunice Briano de Oliveira, foi  iniciada por minha avó materna Maria de Lourdes Barboza Briano, a qual  fora professora por bons anos e decidiu educar os seus filhos em casa,  já que deixou a profissão assim que casou-se, acredito que tal fato  tenha se restringido ao machismo e pulso forte de meu avó Manoel Matias  Briano, porém um homem amável com suas netas e netos. O meu lado  paterno, o qual mais identifico e me vejo, sempre aos olhos do senhor  Severino Jóse de Oliveira, que foi uma criança sofredora, assim como  muitas crianças que nasceram no sertão nordestino. O meu avó paterno, o  qual tenho extrema saudade e que tenho as melhores lembranças da minha  infância e da
sua    imagem íntegra, simples e o  seu  olhar de respeito.Um homem que  passava sua mensagem através de um olhar fixo. O mesmo, que sofrera por  amar uma moça chamada Maria Alves da Silva, a mesma que viera a ser  tempo depois sua esposa, mas sofrera por ser pobre, não ter tido a mesma  condição educacional e social que sua amada. A família de nossa Vó Nina  ( como carinhosamente gostava de ser chamada), não aceitava o rapaz  pobre: José Tavares da Silva. No entanto enfrentaram suas famílias e  consumaram a união com perseverança e muita dificuldade. Em uma destas,  acabaram por deixar seus filhos com diferentes parentes, para  enfrentarem à seca que ora castigava a família. Venceram-na ,  conseguiram reunir novamente a família e vieram em busca de uma melhor  condição de vida na Bahia. Inicialmente passaram pelo pequeno povoado de  Tanquinho e logo após a cidade de Irecê: a capital do feijão! Que  prosperava na década de 80. Foi nesta época que assim que todos se  estabeleceram, nesta cidade, meu pai voltou à Arcoverde, com Vó José,  para vender algumas “cabeças de boi”, com a finalidade de enviar  dinheiro aos seus filhos, para que pudessem dar início a uma nova  jornada. Durante a viagem, o sonhador Severino, ficou na cidade e seu  pai voltara a Irecê, aquele conheceu a bela Eunice, que a vida a fez uma  mulher de pulso forte.A primogênita de um casamento de amor, ao  contrário da união de seus avós paternos que tal consumação foi feita de  uma união arranjada,como culturalmente se fazia na década de 30.  Casaram-se na bela cidade , e resolveram construir uma nova vida em  Irecê.Eu já estava no ventre da jovem de vinte anos e ao nascer fui  motivo de muita choradeira e espanto, por apresentar pouco peso: dois  quilos e novecentas gramas e cinqüenta e um centímetros de comprimento;  magrinha pra ser exata.Meu pai se recorda de ter observado os meus dedos  da mão e com espanto disse: “Oh, meu Deus!Será que amanhã vai está mais  bonitinha?”. E com o passar dos anos, Deus ouviu meu pai e fui  melhorando, até engordei um pouquinho e me transformei em uma criança  cheia de mimos e atenção de todos os lados; quer dizer, até chegar uma  irmãzinha: a Queila e depois o irmãozinho Enio. Depois me acostumei com a  situação e fiz de minha melhor amiga a prima Denise Karla, a qual tenho  grande amor e admiração, a mesma que fiz ou ela se fez, de um porto de  segurança, onde me defendia em todos as ocasiões e em todas as  brincadeiras.Somos cúmplices de uma amizade inigualável. A brincadeira  que mais gostava, era a de: “- Vamos brincar de escolinha!”.Adorava esta  frase. Todos os domingos, todas as primas e primos nos reuníamos na  casa de tia Norma, irmã do meu pai, o qual ficava ao lado da casa de vó  Maria, para brincar.
Me  recordo que todas as sextas-feiras, eu, minha irmã Queila e minha prima  Pollyana ficávamos na  porta da secretaria da escola A Casinha Feliz,  onde estudávamos, esperando as tarefinhas da semana, que eu havia visto  certa feita, que sobrava e pedi a pró Neuralva, a diretora da escola,  que junta-se as durante a semana para que pudéssemos levá-las para  brincar de escolinha aos domingos, e expliquei o fato (...). Esta  concordou. E a primeira sexta-feira foi
esperada com ansiedade. E todos os domingos eram uma festa.
Minha  infância se estendeu até os doze anos de idade, onde ainda esperava  Papai  Noel, e ao descobrir que ele não existia fiquei bastante triste  por achar que haviam mentindo para mim, assim como: “Se passar direto,  no final do ano vai ganhar uma bicicleta e / ou um quadro para brincar  de escolinha.”Frases estas,que nunca se transformaram em concretas, a  não ser quando resolvi concretizá-las com meu próprio esforço e as  várias aulas particulares que comecei
dando  a algumas primas, quando sentiam dificuldade em determinada matéria e  até mesmo os meus colegas de colégio, onde aprendi lidar como o “valor  material”e adquiri-lo para sobrepor uma “carência de imposição”. “Se  fizer isso. ..ganhará aquilo.” Por fim superei tal fato, o que me ajudou  a aprender e perceber as coisas e o modo como as pessoas ao meu redor  me vêem. A questão do respeito mútuo. Acredito fielmente que nenhuma  situação ou “frase pronta”, seja por um acaso. Esses instrumentos têm  uma intencionalidade e devemos tirar proveito de sua
mensagem subliminar e ter uma visão crítica sobre esta.
2. Prazer: me chamo Escola.
O  prazer de vir à escola, não foi algo imediato, creio que tinha medo do  novo do que estava por vir... De ficar longe de meus pais, mesmo que por  algumas horas (mas também não tinha noção deste “tempo”). Chorava  bastante, e como relata minha mãe, esta ficou mais ou menos duas horas a  minha companhia para que me acalmasse e começasse a “entrosar” com a  turma.
A  instituição que meus pais escolheram foiA Escola A Casinha Feliz, a  qual comecei a freqüentá-la aos três anos de idade. Onde comecei a  partir da qualificação da época: jardim I a II, alfabetização, e de 1º a  4ª série do ensino fundamental. Neste período me destacava pelas boas  notas e pela habilidade com a pintura e de estar sempre participando da  organização das festinhas, onde adorava ajudar as Prós na ornamentação  da escola, onde criava alguns apetrechos, com a orientação da professora  Neuralva, esta que estimulou tal habilidade. Isto ocorreu a partir da  alfabetização. Recordo que na 3ª série esta mesma professora, pensava em  comemorar o dia da criança, onde ela, eu, e minha prima Pollyana  criamos juntas algumas idéias: fizemos show da Xuxa, show de calouros,  desfile... Que eu adorava!
No  início, quando me deparei com a educação infantil - o jardim I, II e  III à alfabetização, sentia tremenda dificuldade em aprender todo o  alfabeto, pois quando chegava em letras com o: f (fê), g (guê), j (ji), l  (lê), m (mê); não compreendia já que minha mãe me ensinava: f (êfe), g  (gê), j (jota), l (êle), m (êmi), como esta aprendera em seu estado  natal. E me encontrava em um dilema: “Mainha, a pró disse que tá errado,  que eu não sei falar!” O outro lado dizia: “Sheila, não é assim! Ela  está ensinando errado: - afinal, acreditar em quem?! Se ambas eram  pessoas de referência em minha vida. Por causa de tal questão dei um bom  trabalho a minha mãe, na hora de fazer as tarefas de casa, e quando o  esta faltava o “paciência de Jó”, minha madrinha Mara, a qual  pa-ci-en-te-men-te me ajudava, tentava desconstruir tal confusão.
Minha mãe recordou - se da dificuldade de esta tentar passar para mim o método a Casinha Feliz, assim:pa-pa-pai- papai.
As  turmas as quais fiz parte, sempre expressaram atenção nos ditados de  palavras, depois da apresentação de texto da família A Casinha Feliz,  uma leitura continuada, havia ainda os cadernos de caligrafia e as aulas  de tabuada, que sempre expressávamos medo, da reação da professora e  dos colegas.
Nossa  sala ficava em frente à sala da diretora e volta e meia, ela passava  “aquele olhar...” Sentávamos em fileiras, os bons alunos sempre sentavam  na frente, e os que sentavam no lado esquerdo ou no fundo apresentavam  certa dificuldade de aprendizagem, mas só percebemos isso com maior  clareza a partir da 2ª série em diante onde o professor de matemática  começava a classificar excluindo - os,identificando - os e dando pouca  atenção a estes. Logo, logo a nossa diretora percebeu e a substituiu.  Por algumas vezes mudávamos bastante de professoras, mas nem sempre  vinham nos relatar o por quê.
3. Ih! Mais matérias.Ah! Vou estudar no CCAA!!!
Assim  que ingressei no Ensino Fundamental da 5ª a 8ª série, ao contrário da  educação infantil - não via a hora de estudar no Colégio Cláudio Abílio  Aragão. Ele tinha uma bela história pra mim, pois minha mãe havia  estudado nele, e eu adorava a idéia de estar no mesmo lugar que ela  estudou. Era um sonho!
Porém não soube lidar com a “falta de atenção” dos professores, éramos um número maior.
E  já não entendia como poderia lidar com a saudade do carinho das Prós  da  Casinha Feliz, pois as professoras do Colégio eram brigonas e  sérias.Sentia tremenda dificuldade de acompanhar o rítimo da turma. E  acabei sendo reprovada na 5º série, fiquei bastante triste, pois fiz  minha mãe ficar brava, e pensava: “Será que mainha vai me levar pra  Pernambuco?” Ela fez disso uma “pressão psicológica”, para que me  esforçasse mais no ano seguinte...E deu certo!Na nova 5º série eu era  colega da minha irmã, e ficávamos meio que em constante competição,  passamos direto todo o ginásio.
A  7º série foi à época mais marcante, foi quando voltei a ficar na mesma  sala de minha prima Denise, fazíamos tudo juntas, foi a época também das  “descobertas e das dúvidas”.Tivemos uma professora maravilhosa, ela se  chamava Graciete e lecionava Geografia, era a única que fazia a  diferença.Conversava conosco tinha aulas divertidas, o que conquistava a  nossa atenção. Durante dois anos participamos de discussões grandiosas  de ordem política, e em uma de suas aulas próximas a Gincana do colégio  organizamos a Equipe Fomília, onde tentávamos apresentar a realidade das
famílias  pobres do Brasil. Já na 8º série as discussões políticas continuavam,  foi o ano do Plebiscito Brasileiro, organizamos no colégio uma eleição  discutimos propostas, levantamos questões sobre o que significava:  monarquia, parlamentarismo e presidencialismo. Cada uma com suas chapas e  seu poder de persuadir. Foi um momento único que envolveu toda classe  estudantil daquela instituição, fizemos cartazes, instigamos os colegas à  discussão, enfim foi uma verdadeira aula de democracia. Por fim, tudo  transcorrerá bem, agora dávamos início ao tão sonhado Ensino Médio, era  chegada à hora de nos preparar  para o Vestibular.
4. E agora o que vou escolher? O que vou ser?
Continuei  no CCAA, o lema desta instituição, sempre foi: ingressar os seus alunos  na Universidade.E essa idéia partia na prática dos estudos desde o  primeiro ano do Ensino Médio.
Não  senti dificuldades no 1ºano, porém a tal da Física começava a me  perseguir. Já no 2º ano, exatamente no início da quarta unidade, quase  passada, algo que se relacionou com o meu lado afetivo, me fez perder o  interesse pelos estudos. Prestes a fazer as provas finais me deixei  abater pelo quadro efêmero de meu avô paterno, e que depois veio a  desencarnar.O que desequilibrou a mim e Denise (ainda estudávamos  juntas), fiquei de final em física e química, e não tive condições de  passar, ao menos respondera toda prova. Foi a partir daí que as coisas  começaram a tomar um rumo errado.Fui reprovada. E como na 5º série eu  pensei na reação da minha mãe, esta que se esforçara tanto todos estes  anos para nos dar a melhor educação possível e que às vezes fizera  alguns sacrifícios junto ao meu pai para que não nos faltasse nem o  material escolar. Então sua reação foi imediata: “Você vai para o  Polivalente!".Fiquei quieta, afinal que direito eu tinha de  contradizê-la. 
Então  colocaram, eu e meus irmãos na escola pública.Por outro lado nossa  condição financeira estava delicada, nossa família havia gastado muito  com as idas e vindas do estado grave de Vô José.Entrei na escola pública  de forma ruim, e hoje tento dedicar o melhor de mim a ela. 
Ao  chegar no Colégio Estadual Polivalente, foi um choque, percebi que os  professores em sua maioria: "vomitavam a aula”, algo totalmente  diferente que havia vivenciado no CCAA.Foi então que resolvi ajudar os  meus colegas de classe, pois tal situação não poderia mais se agravar.  Passei então a dar aulas, chegávamos mais cedo e começávamos a ver o  assunto antes do professor e provocávamos uma discussão.A partir daí  organizamos encontros para estudar. Mas ainda não estava feliz. Todas as  noites eu e minha irmã voltávamos para casa chorosas como começávamos a  relatar, que alguns colegas e até professores no condenavam por tal  ajuda, diziam eles: "- Vocês gostam é de se mostrar, só por que vieram  do Cláudio Abílio”. Decerto, que infelizmente uma maioria pensava dessa  forma. Afinal, tudo é um aprendizado, assim com o trabalho em família. Eu  e meus irmãos, por exemplo, começamos a aprender a trabalhar por  influência de nosso pai, o qual tem como profissão o amor à fotografia, e  que eu herdei.
Certo  dia fui com ele tirar algumas fotografias no CCAA, e me deparo com  Edivan o vice-diretor da época (no ano de 1999), e este perguntou o por  quê que eu não estava naquela instituição, contei-lhe toda história e  este resolveu me presentear com uma bolsa de estudos para que conclui-se  o ensino médio, eu e meu pai não acreditávamos, aceitei na hora. Ao  chegar em casa contei a novidade a minha mãe, esta chorou de alegria,  pois sabia como o ensino do CCAA, era importante para mim. Conclui o  ensino médio e com a perspectiva de me tornar uma profissional que ama o  que faz e atuar de forma transformadora.
5. Em busca da realização profissional.
No  ano de 2000, assim que conclui o 3º ano do Ensino Médio, prestei  vestibular (UFBA e UFPB) por duas vezes para Psicologia, área que me  fascina, por trabalhar a mente humana de forma singular. E devido a uma  "deficiência" na disciplina de física, sempre zerava suas provas.Sempre  apreciei as áreas de humanas e exatas as quais me qualificava bem. Entre  um vestibular e outro meus pais sempre frizavam: “- Sheila, o seu  negócio é ensinar, faz Pedagogia”.Confesso que não aceitava tal sugestão  por achar que era apenas minha mãe, querendo a filha ao seu alcance. E  resolvi entrar no Curso Visão (cursinho pré-vestibular) e fazer o  vestibular de Pedagogia na UNEB. Assim que professor Jorge Rodrigues  ficou sabendo de tal feito, me procurou para oferecer o seu colégio para  que eu estudasse gratuitamente no 3º ano como aluna assistente, a fim  de aperfeiçoar meus estudos e de incentivar os demais colegas  pré-vestibulandos. Adorei a idéia e prossegui. No final do ano fiz as  provas da UNEB, ao ver o resultado do vestibular chorava  compulsivamente-VITÓRIA! E a partir do 1º semestre, ainda não havia me  encontrado dentro do âmbito da universidade, sentia a necessidade de ver  todas as maravilhas que nossos mestres tentavam nos descrever: a sala  de aula. 
A  partir do 2º semestre joguei com a sorte e fui em busca deste desafio e  hoje no 5ºsemestre me sinto realizada, mesmo sem ter terminado o curso  de Pedagogia. A cada planejamento, a cada nova situação em classe, vejo à  transformação e realização que tanto almejava no ensino médio. E em  todas as minhas aulas, tento passar para meus alunos esse amor ao que  faço e principalmente a autonomia, o direito a discussão e a democracia,  instrumentos usados durante toda a minha vivência educacional.
